O JornalDentistry em 2021-5-08
Os adultos com periodontite transmitem bactérias que podem causar a doença no futuro aos seus filhos, e as bactérias permanecem na cavidade oral mesmo quando as crianças são submetidas a tratamento de vários tipos.
O estudo reforça a necessidade de cuidados preventivos no primeiro ano de vida de um bebé.
Esta é a principal conclusão de um estudo realizado na Universidade de Campinas (UNICAMP) no estado de São Paulo, Brasil. Um artigo sobre o estudo é publicado em Relatórios Científicos.
Periodontite é uma inflamação do periodontium, o tecido que suporta os dentes e os mantém nos ossos maxilares e mandibulares. A doença é desencadeada por infeção bacteriana. Os sintomas incluem hemorragia das gengivas e halitose. Em casos graves, leva à perda de ossos e dentes. Se as bactérias ou outros microrganismos que causam a doença entrarem na corrente sanguínea, podem desencadear outros tipos de inflamação no corpo. O tratamento inclui a limpeza dos bolsos à volta dos dentes por um dentista ou higienista e a administração de medicamentos anti-inflamatórios ou antibióticos.
"O microbioma oral dos pais é determinante da colonização microbiana subgingiva dos seus filhos", afirmam os autores do artigo nas suas conclusões, acrescentando que "a microbiota disbiótica adquirida por crianças de doentes com periodontite em tenra idade é resiliente à mudança e a estrutura comunitária mantém-se mesmo depois de controlar o estado de higiene".
Segundo a cirurgiã dentária Mabelle de Freitas Monteiro, primeira autora do artigo, ela e o seu grupo têm pesquisado periodontite há 10 anos, observando os pais com a doença e o seu impacto na saúde dos seus filhos.
"Se os resultados forem aplicados à prática dentária do dia-a-dia, o estudo pode ser dito para ajudar a desenhar abordagens mais diretas. Saber que a doença periodontal pode afetar a família do doente é um incentivo ao uso do tratamento preventivo, procurar o diagnóstico precoce e mitigar complicações", disse Monteiro, que foi apoiado pela FAPESP através de dois projetos (16/03704-7 e 16/19970-8).
O principal investigador de ambos os projetos foi Renato Corrêa Viana Casarin, professor na Escola Dentária Piracicaba (FOP) da UNICAMP e último autor do artigo.
Para Casarin, os pais devem começar a cuidar da saúde das gengivas dos seus filhos quando são bebés. "Este estudo pioneiro compara os pais com e sem periodontite. Em crianças dos primeiros, encontramos colonização bacteriana subgingival desde muito cedo. No entanto, "herdar" o problema não significa que uma criança esteja destinada a desenvolver a doença na idade adulta. Daí a importância de manter os olhos abertos para os sinais mais pequenos e procurar ajuda especializada", comentou Casarin.
Dados sobre a saúde oral da população brasileira é escassa. De acordo com o último inquérito epidemiológico dentário nacional, realizado pelo Ministério da Saúde em 2010, 18% das crianças com 12 anos nunca tinham ido ao dentista e 11,7% tinham sofrido hemorragia sanguínea nas gengivas. Na faixa etária dos 15 aos 19 anos, 13,6% nunca tinham visitado uma clínica dentária. Outra sondagem estava prevista para 2020, mas teve de ser adiada devido à pandemia COVID-19.
A Saúde do Estado de São Paulo publicou as conclusões do seu mais recente inquérito de saúde oral em 2019, mostrando, entre outras coisas, que 50,5% dos adultos entre os 35 e os 44 anos se queixavam de dor de dentes, hemorragia das gengivas e periodontite.
Bactérias
No estudo da FOP-UNICAMP liderado por Casarin e Monteiro, foram recolhidas amostras de biofilme e placa subgingival de 18 adultos com historial de periodontite agressiva generalizada (grau C), seus filhos dos 6 aos 12 anos e 18 adultos oralmente saudáveis.
Além de uma análise clínica, as amostras foram também submetidas a uma análise microbiológica e sequenciação genética por investigadores da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, sob a supervisão do Professor Purnima Kumar.
"Os filhos dos pais da periodontite foram preferencialmente colonizados por Filifactor alocis, Porphyromonas gingivalis, Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Streptococcus parasanguinis, Fusobacterium nucleatum e várias espécies pertencentes ao género Selenomonas mesmo na ausência de periodontitis", lê-se no artigo. "Estes agentes patogénicos também emergiram como discriminadores robustos das assinaturas microbianas de filhos de pais com periodontite."
Casarin disse à Agência FAPESP que, apesar do controlo da placa bacteriana e da escovagem vigorosa das crianças de pessoas com a doença, ainda tinha as bactérias na boca, enquanto os efeitos da higiene dentária e da profilaxia eram mais significativos nas crianças de indivíduos saudáveis.
"Como os pais tinham periodontite, os seus filhos assumiram esta comunidade com características da doença. Eles transportaram a informação bacteriana para a sua vida adulta", disse, acrescentando que a análise da colonização bacteriana apontava para uma maior probabilidade de transmissão por parte da mãe. O grupo de investigação vai agora trabalhar com mulheres grávidas num esforço para "quebrar o ciclo" prevenindo
Fonte: MedicalXpress/Luciana Constantino, FAPESP
"Bacteria that cause periodontitis are transmitted from parents to children"