No ano passado, ao abrigo do Programa Cheque Dentista, foi lançado em Portugal o Projeto de Intervenção Precoce do Cancro Oral (PIPCO). Os primeiros resultados conhecidos mostram que já foram detetadas através deste novo projeto 24 lesões malignas, estando em análise 17 lesões suspeitas.
O PIPCO é um projeto criado de raiz pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) e pela Direção-Geral de Saúde, com um conceito inovador que integra médicos dentistas, médicos de família, médicos hospitalares, hospitais e laboratório de referência.
Na presença de uma lesão oral suspeita, os doentes são encaminhados pelos médicos de família, através da emissão de um cheque dentista, para um médico dentista que avalia a lesão e decide quando é necessário a realização de uma biópsia. Caso seja necessário realizar biópsia, o médico dentista emite um segundo cheque dentista, e depois de recolhida a amostra segue para análise em laboratório. Identificada uma lesão cancerígena, o médico dentista e o médico de família são notificados pelo laboratório, e o doente é informado que tem já data de consulta num hospital de referência mais próximo para dar início ao tratamento.
Desde que o projeto foi implementado, a 1 de março de 2014, e até 30 de junho deste ano, já foram utilizados 1.315 cheques-diagnóstico para um total de 4.341 cheques emitidos.
Pedro Trancoso, médico dentista que integra o Grupo de Trabalho Cancro Oral da OMD com a DGS, explica que “a taxa de execução do PIPCO está nos 30%, mas vai subir nos próximos meses. O programa necessitou de alguns acertos informáticos que condicionaram o arranque, mas nos últimos meses a taxa de execução tem sido crescente. A taxa de execução do cheque biópsia está nos 90%, o que quer dizer que os casos suspeitos estão a ser devidamente encaminhados e acompanhados.”
Para o médico dentista Pedro Trancoso “é importante trabalhar para uma maior consciencialização da população e dos médicos de família para o cancro da cavidade oral. A importância da saúde oral ainda é relativizada, e no caso do cancro oral a cura existe se a doença for diagnosticada e tratada precocemente. Em Portugal, o atraso no diagnóstico destes tumores é evidente, pelo que a taxa de mortalidade associada ao cancro oral é inferior a 50% a cinco anos. Calcula-se, no entanto, que as taxas de sobrevivência poderão ser superiores a 80% se o diagnóstico for efetuado precocemente.”
“Qualquer lesão na boca que prevaleça durante mais de duas semanas deve ser motivo para uma consulta ao médico dentista. É por isso importante que os médicos de família estejam também atentos”, sublinha Pedro Trancoso.
Pedro Trancoso refere ainda que “os 24 casos de cancro oral detetados referem-se apenas ao projeto PIPCO, mas existem muitos mais casos. O cancro oral é um dos tumores com taxas de mortalidade mais elevadas, estimando-se que em Portugal a mortalidade associada a esta patologia seja idêntica à dos outros países ocidentais, embora a incidência seja superior à média europeia”.
Fonte: BA&N/OMD |