JornalDentistry em 2023-9-07
A saúde oral deteriora-se em pessoas com obesidade mórbida em dieta de preparação para cirurgia bariátrica e em pacientes submetidos ao procedimento, com aumento de cáries, gengivite e periodontite.
Essa é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), no Brasil. Os artigos sobre o estudo são publicados no Journal of Oral Rehabilitation and Clinical Oral Investigations, ressaltando a importância da participação do médico dentista na avaliação dos pacientes bariátricos.
O estudo acompanhou 100 pacientes divididos em dois grupos (aconselhamento dietético e gastroplastia) na Clínica Bariátrica de Piracicaba, interior de São Paulo. A clínica realiza cerca de 50 operações desse tipo por mês, principalmente sob os auspícios do SUS ("Sistema Único de Saúde"), o serviço nacional de saúde do Brasil.
Questionários, exames orais, amostras de saliva e esfregaços de bochecha foram analisados para determinar mudanças na dieta, perda de peso, marcadores inflamatórios, microbiota oral por sequenciamento e saúde dentária e periodontal antes da operação, bem como três e seis meses após a operação ou início da operação. a dieta.
“Os pacientes foram solicitados a usar fio dental e escovar os dentes três vezes ao dia, mas mesmo assim a saúde oral piorou significativamente. O número de cáries aumentou e o estado periodontal piorou em um curto período em ambos os grupos, mas principalmente no grupo da gastroplastia, ", disse a fisiologista oral Paula Midori Castelo Ferrua, professora do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UNIFESP e última autora dos dois artigos.
Os marcadores salivares mostraram comprometimento da capacidade tampão ácida, essencial para manter o pH e prevenir a desmineralização do esmalte dentário. O sequenciamento do genoma bacteriano mostrou alterações na diversidade da microbiota, principalmente no grupo da gastroplastia, de modo que aumentou a proporção de microrganismos causadores de periodontite.
Verificou-se que a dieta de muitos pacientes melhorou, mas acreditava-se que mudanças profundas na dieta eram a principal causa da deterioração da saúde oral, especialmente porque as refeições diárias mais frequentes não eram acompanhadas por uma limpeza dentária mais frequente e mais alimentos eram líquidos ou purê nos primeiros meses após a cirurgia.
“Há menos fibras na dieta e não é necessária mastigação, então o alimento adere ao esmalte e forma-se biofilme na superfície do dente. Sem mastigar, menos saliva é secretada e a capacidade tampão de ácido diminui”, disse Castelo.
Melhorias futuras
Mais de 300 mil cirurgias bariátricas foram realizadas no Brasil no período 2017-22. Foram pagos pelo SUS e planos de saúde. As equipes multidisciplinares responsáveis por esses pacientes incluem médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos. Os médicos dentistas geralmente não são incluídos, apesar dos riscos para a saúde oral decorrentes da mudança drástica na dieta antes e depois da operação.
Os resultados do estudo mostram que avaliar a saúde oral do paciente antes e depois da cirurgia bariátrica é fundamental. Apontam também para os próximos passos dos investigadores da área, que devem incluir a determinação da melhor intervenção preventiva ou terapêutica para resolver problemas de saúde oral durante a dieta pré-operatória e período de recuperação pós-operatória, testar métodos bem estabelecidos, como a aplicação de flúor, reforço da escovação e uso do fio dental.
“Diretrizes específicas de saúde oral para pessoas que procuram tratamento para obesidade mórbida também serão importantes no futuro”, disse Castelo.
Fonte; MedicalXpress / Julia Moióli, FAPESP