O JornalDentistry em 2019-1-29
A ética e o domínio do conhecimento técnico e científico formam um ritual que deve ser sempre observado. O lucro é consequência, e não deve ser menosprezado, mas vem depois. Por esse motivo jamais deve ser colocado em primeiro lugar na sequência temporal dos acontecimentos
Um grande engano: vender por vender. Um grande erro: estimular a venda por impulso ou emoção. Estes atos vão impactar o futuro, impor brevidade ao caminho e exteriorizar uma conduta com atitudes que não combinam com qualquer doutrina que rege o verdadeiro profissional da área de saúde.
Não somos uma loja, um centro de distribuição ou um shopping. Não vendemos produtos como implantes, cerâmicas ou branqueamentos dentários. Tratamos de pessoas e, bem ou mal, tentamos recuperar a sua saúde e, porque não, a sua estética, quando realmente deteriorada.
A nossa preocupação sempre residiu neste aspetos. Não trabalhamos de graça, a não ser em causas de caráter voluntário, mas entendemos que primeiro precisamos de resolver os problemas e as necessidades de quem veio até nós em busca de atendimento.
Em Portugal e no Brasil existem demasiados médicos dentistas. No entanto, com certeza, inúmeros com experiência a menos: tratam alguns casos que não passam de modas, como se fossem conhecedores traquejados e experientes.
Mesmo sendo formados em cursos de “aprendizagem insantânea”, com carga horária menor do que para aprender a pilotar qualquer smartphone mais elaborado. Modas essas, na maioria das vezes, influenciadas pelo poder da indústria. Marketing muitas vezes enganador que sequestra o bom senso e nos empurra para a vala comum de meros agentes comerciais. Nada contra estes, mas a saúde não é comércio e tampouco a estética o é.
Não é nada fácil lidar com clientes obsessivos e neuróticos por estética. Inseguros a ponto de quererem estar de acordo com qualquer padrão ditado por celebridades. Mas esta é a nossa responsabilidade: capacidade de distinguir o que é o certo, e não o que é simplesmente tendência. A tendência tem a ver com moda, mas a moda, cá para nós, é assunto do século passado. Se existe a moda, ela é menos e não mais. Menos é Mais.
Difícil pensar assim, antiquado diriam alguns, mas o tempo continua a ser o senhor da razão. Sei que é uma frase muito antiga, mas se preferem assim continua na moda.
Também preciso de voltar a comentar sobre a hiperinflação diagnóstica. Está difícil de encontrar uma cavidade oral normal. Mais uma fabulosa incorreção. Estamos a encontrar problemas em tudo, sempre algo precisa de ser corrigido. Estamos intolerantes ao extremo com qualquer imperfeição. Espero, do fundo do meu coração, que não seja um olhar ganancioso.
Muitas destas imperfeições não são observadas pelos pacientes, sem qualquer sintoma ou desconforto, muito menos pelas pessoas que com eles convivem. Mas ao mostrar e valorizar, com ar de super especialistas, convencemos e induzimos os pacientes a corrigirem estes pseudo problemas.
Ouçam a voz da prudência, esta pode prevenir os aborreci- mentos que certamente vão advir. Aliás, falando em prudência, pouco se ouve no universo dentário a palavra prevenção. Ela certamente não deixou de existir, mas está desvalorizada na esfera da indústria que não a vê com bons olhos.
Poupem nos tratamentos estéticos imaculados em jovens adolescentes, lembrem-se que a adolescência está definitiamente prorrogada. Significa dizer que não estamos a falar só de jovens de 14, 15 ou 16 anos. É muito alta a probabilidade, se estes tratamentos forem realizados em pessoas muito jovens, que vocês tenham estes pacientes por muito tempo.
Possivelmente chegará o momento em que a atuação de um cirurgião se fará necessária. Talvez o que era natural, com traços mínimos de imperfeição estética, venha a exigir uma restauração em que o artificial se fará presente. Esta intervenção será proclamada, claro, com o rufar dos tambo- res, como sendo a melhor solução do mundo, nas trombetas do marketing de quem precisa de vendê-la sem o mínimo de escrúpulos.
A nossa profissão não é singela, tem a complexidade ideal para quem quer buscar os horizontes mais longínquos. Trocamos constantemente de lugar com o paciente, tentando sentir o que ele sente. Somos capazes de tocar a alma das pessoas com o nosso trabalho, entregando emoção e criando brilho no olhar. Estes sentimentos estão acima da matéria, são frutos da paixão de quem faz e vibra com o resultado.
Sorte, sem dúvida, eu estar aqui e fazer parte desta profissão. Nenhuma palavra a define melhor, na minha modesta opinião, do que conquista. “Uma vida longa, pessoal e profissional, para todos nós”.
Autor: Dr. Celso Orth — Graduado em Medicina Dentária - UFRGS; MBA em Gestão Empresarial - Fundação Getulio Vargas; Educador Físico - IPARS; Membro Fundador da Academia Brasileira de Odontologia Estética; Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética; Palestrante de Gestão na Prestação de Serviços na área da saúde; Reabilitador que trabalha em tempo integral na Clínica Orth - Rio Grande do Sul - Brasil. Para enviar questões e solicitar esclarecimentos: celsoantonioorth@gmail.com