Texto Fernando Arroba, MD ilustração Ilustração: Diogo Costa em 2015-12-03
Na passada sexta-feira, dia 13 de Novembro 2015, omundo voltou a entrar em choque na sequência dosatentados de Paris. Momentos de descontração, como beber uma cerveja junto a um estádio de futebol ou sorrir e dançar num concerto de rock, transformaram-se, em poucos segundos, no terror.
Em nome do califado do Estado Islâmico, bombistas suicidas e homens sem piedade munidos de metralhadoras derramaram sangue e assassinaram centenas de inocentes.
Nessa mesma manhã, o antigo Presidente da República portuguesa, Dr.Jorge Sampaio, esteve presente na cerimónia de abertura do XXIV Congresso da Ordem dos Médicos Dentistas, onde homenageou os médicos dentistas portugueses que, com
altruísmo e bondade, têm acompanhado os estudantes sírios que se encontram em Portugal ao abrigo da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios.
Por momentos, imagine-se a transformação total da realidade conhecida. Devido a uma guerra civil longa e sem fim à vista, os cidadãos, por se encontrarem sujeitos diariamente aos tipos de ataques que aconteceram na capital francesa, sentem-se na obrigação de fugir e procurar um lugar seguro para as suas famílias. Perante este cenário de desespero e luta pela sobrevivência, encontram-se dispostos a ficar meses consecutivos sem poder realizar as tarefas mais básicas, como higienizar os dentes ou alimentar-se convenientemente.
Com efeito, na presença destes fatores de risco, as doenças orais em contexto de guerra ou perante crises de refugiados são das mais prevalentes. As dores de dentes tornam-se insuportáveis, a ausência de higiene gera desconforto e a falta de nutrição é responsável por um sem fim de manifestações orais e doenças de outro foro. Acresce ainda a falta de qualidade de vida, a tensão e stress acumulados, a ausência de vontade psicológica em sorrir e o número elevado de traumatismos oro maxilo faciais sofridos, ora por quedas, acidentes ou agressões resultantes dos milhares de quilómetros trilhados.
A medicina dentária é uma profissão com uma utilidade social demasiado grande para estar longe deste problema. É por isso que aproveitei este espaço para elogiar e agradecer o papel de todos os colegas que têm disponibilizado os seus recursos para ajudar estas pessoas,as quais, à semelhança das que sofreram o atentado em França, são também vítimas.
É claro que o apelo ao envolvimento de mais profissionais, indivíduos, empresas e instituições em prol desta nobre causa de paz também nunca é de mais. Pois, tal como afirmou Martin Luther King, “o que mais preocupa não é o grito dos violentos (...) é o silêncio dos bons”.