O JornalDentistry em 2017-6-06
Pesquisadores da Kumamoto University, Japão,encontraram em paciente japoneses uma relação no prognóstico do cancro do esófago com um tipo de bactéria geralmente encontrada na boca, a Fusobacterium nucleatum (F. nucleatum).
Relação entre a Fusobacterium nucleatum e o cancro do esófago
As bactérias são um agente causador da doença periodontal e, embora possa ser encontrada entre a flora intestinal, não tem sido o foco de muita pesquisa até agora.
Existem centenas de espécies de bactérias intestinais com cerca de 100 biliões no corpo humano desempenhando um papel importante na manutenção da homeostase. Recentemente, a flora bacteriana intestinal tem vindo a chamar a atenção dos pesquisadores devido à sua associação com vários tipos de cancro, diabetes, obesidade, doença inflamatória intestinal e doença hepática gordurosa não alcoólica.
Um exemplo bem conhecido disso é Helicobacter pylori, uma bactéria que reside no estômago, que foi associada ao cancro do estômago.
Recentemente foi relatado que a F. nucleatum foi freqüentemente detetada em tecidos do cancro do cólon e que pode também ter um efeito no desenvolvimento do cancro colorretal. Estes fatos levaram os pesquisadores da Kumamoto University a suspeitar que F. nucleatum pode igualmente desempenhar um papel importante no cancro do esófago, devido à proximidade da cavidade oral com o esófago e começaram a investigar essa possibilidade.
Usando a análise de PCR em tempo real, avaliaram o DNA do tecido cancerígeno de 325 pacientes submetidos à remoção cirúrgica do cancro esófago no Hospital Universitário de Kumamoto e descobriram que 74 dos 325 pacientes (quase 23%) tinham F. nucleatum nos tecidos cancerígenos. Os pesquisadores compararam o tempo de sobrevivência pós-cirurgia entre pacientes cujos tecidos do cancro do esófago testaram positivo para F. nucleatum com aqueles que não controlaram fatores de sobrevivência como idade, tabagismo, estágio tumoral. Descobriram que o grupo com F. nucleatum nos tecidos cancerígenos teve tempos de sobrevivência significativamente mais curtos.
Os pesquisadores analisaram ainda as diferenças nos genes de pacientes com cancro do esófago utilizando DNA extraído dos tecidos dos cancros esofágicos positivos e negativos para F. nucleatum. Descobriram que um grupo de genes relacionados com as citocinas inflamatórias (proteínas que promovem a inflamação) era diferente em pacientes com cancro do esófago positivo para F. nucleatum. A análise detalhada desses dados revelou que o número de genes de quimiocinas específicas (proteínas relacionadas ao transporte de glóbulos brancos, como CCL20 e CXCL7) aumentou.
Segundo o Professor Hideo Baba, que liderou a pesquisa, este estudo sugeriu que a bactéria da cavidade oral F. nucleatum pode estar envolvida no desenvolvimento e progressão do cancro de esófago através da quimiocinas. Deve-se notar que ainda se desconhece se a F. nucleatum provoca cancro do esófago. É necessária uma análise mais aprofundada por mais instituições, de preferência em todo o mundo, uma vez que a flora intestinal difere entre os indivíduos. Em pesquisas futuras e após definir qual o papel da F. Nucleatum no desenvolvimento do cancro do esófago com mais detalhes, devemos ser capazes de desenvolver novos medicamentos para tratar melhor esta forma de cancro.
Fonte: EureKalerta
Artigo original: ”Oral bacterium related esophageal cancer prognosis in Japanese patients”
Autores do estudo: K. Yamamura, Y. Baba, S. Nakagawa, K. Mima, K. Miyake, K. Nakamura, H. Sawayama, K. Kinoshita, T. Ishimoto, M. Iwatsuki, Y. Sakamoto, Y. Yamashita, N. Yoshida, M. Watanabe, and H. Baba, "Human microbiome fusobacterium nucleatum in esophageal cancer tissue is associated with prognosis,"