O JornalDentistry em 2017-10-11
A aparência facial exerce marcante influência na formação, comportamento e socialização infantil. A proposição do estudo foi investigar a agradabilidade do perfil facial em crianças com fissura labiopalatina bilateral completa e comparar, em categorias estéticas, a avaliação de leigos e profissionais relacionados e não relacionados à reabilitação das fissuras.
Cientistas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC/USP) demonstraram em artigo publicado na Dental Press Journal of Orthodontics, v.22, n.4 que pacientes nascidos com o tipo mais grave da fissura labiopalatina, a bilateral, apresentaram uma estética facial aceitável durante a idade escolar. Os pesquisadores, ao investigarem a agradabilidade do perfil facial, perceberam que os profissionais relacionados à reabilitação das fissuras atribuíam melhores escores para a estética facial do que leigos e profissionais não relacionados à fissura labiopalatina. A aparência facial em idade escolar é de relevante influência na inter-relação entre as crianças, em especial, à sua sociabilidade, autoestima e produtividade de aprendizagem.
Este estudo foi conduzido em trinta crianças com idade média de 7,8 anos, avaliadas por ortodontistas e cirurgiões plásticos relacionados e não relacionados ao processo reabilitador, bem como por leigos com grau superior. Por meio de um questionário específico e fotografias padronizadas, os avaliadores classificaram o perfil facial como esteticamente desagradável, aceitável ou agradável. Os ortodontistas que lidam com reabilitação de fissuras labiopalatinas consideraram a maioria da amostra como esteticamente agradável.
Cirurgiões plásticos com experiência em fissuras e leigos classificaram a maioria da amostra como esteticamente aceitável. Grande parte dos ortodontistas e cirurgiões plásticos sem experiência na reabilitação de fissuras classificou o perfil facial como esteticamente desagradável A pesquisa observou, ainda, que as estruturas apontadas como responsável por um perfil desagradáveis foram o nariz, o terço médio da face e o lábio superior, respetivamente.
A avaliação da beleza reflete a ótica do avaliador e ela não está isenta de sua experiência profissional. Os profissionais relacionados à reabilitação da fissura labiopalatina, por conhecerem as limitações impostas pelo processo reabilitador aos indivíduos com fissura, foram mais complacentes no julgamento estético. Os profissionais que não lidam constantemente com a reabilitação da fissura labiopalatina apresentam a normalidade e a perfeição como parâmetros comparativos e, portanto, foram mais rigorosos em sua avaliação.
Teoricamente desprovidos do conhecimento técnico específico, os leigos situaram-se na faixa intermediária dos escores atribuídos e provavelmente representam a avaliação mais próxima da sociedade onde o paciente está inserido. Sob o ponto de vista social, a opinião dos leigos é de extremo interesse, uma vez que o senso estético está relacionado a vários aspetos, tais como condições socioeconómicas e conceitos culturais, além de representar a perceção da sociedade frente ao seu semelhante. Ademais, a opinião de leigos também é muito significativa, considerando a alta frequência de bullying entre pacientes com fissuras labiopalatinas. Logo, é inegável que a estética que agrade os seus semelhantes assuma grande importância na construção da autoestima e na inter-relação pessoal.
O processo reabilitador de indivíduos com fissuras labiopalatinas bilaterais promove uma estética aceitável na infância, podendo contribuir positivamente para a socialização da criança na idade escolar e para o processo de aprendizagem.
Autor: Louise Resti Calil, doutoranda pela Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil.
Fonte: DentalPress — www.dentalpress.com.br
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