Variantes genéticas estão associadas com suscetibilidade ao cancro de boca e garganta
Estudo internacional descreve várias variantes genéticas associadas à suscetibilidade da cavidade oral e ao cancro de faringe. O estudo internacional foi publicado no journal Nature Genetics.
A descoberta mais notável foi a associação entre o cancro da orofaringe e certos polimorfismos (versões alternativas de uma dada sequência de DNA) encontrados na região genómica do antígeno leucocitário humano (HLA). As proteínas HLAs, encontradas na superfície da maioria das células do corpo, desempenham um papel importante no reconhecimento de potenciais ameaças e desencadear a resposta imune a substâncias estranhas.
Segundo Eloiza Helena Tajara, professora da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), no Estado de São Paulo, e co-autora do artigo, um grupo específico de variantes nesta região, localizada no cromossoma 6, é associado com a proteção reforçada contra o cancro orofaríngico causado pelo Vírus do Papiloma Humano (VPH).
Pesquisas anteriores mostraram que essas mesmas variantes conferem proteção contra o cancro do colo uterino, que é conhecido por estar associado ao VPH, os resultados sugerem que os genes que controlam o sistema imunológico desempenham um papel fundamental na predisposição para tumores relacionados com Vírus do Papiloma Humano. Esta descoberta aponta para a possibilidade de esclarecer os mecanismos pelos quais tais tumores se desenvolvem e de conceber métodos para monitorizar grupos de risco.
O estudo foi coordenado pela International Agency for Research on Cancer (IARC) e envolveu 40 grupos de investigação na Europa, Estados Unidos e América do Sul. Os participantes brasileiros são membros do Projeto Genoma Head & Neck (GENCAPO), um consórcio de cientistas afiliados a várias instituições.
Um estudo recente da GENCAPO avaliou mais de 7 milhões de variantes genéticas em amostras de 6.034 pacientes com cancro de cabeça e pescoço. Os casos incluíram 2.990 tumores de cavidade oral, 2.641 tumores oro faríngeos, 305 tumores na hipofaringe e 168 tumores em outras regiões ou mais de uma região concorrentemente. A população do estudo também incluiu amostras de 6.585 pessoas sem cancro como controle.
Os pesquisadores detectaram oito loci (sítios genómicos) associados à suscetibilidade a esses tipos de tumor. Sete não tinham sido previamente ligado ao cancro de boca ou garganta.
No artigo, os pesquisadores observam que a proporção de casos de cancro orofaríngico relacionados ao VPH é estimada em aproximadamente 60% nos EUA e 30% na Europa, mas menor na América do Sul.
Na sua opinião, o forte aumento dos casos ligados ao HPV nos EUA pode ser em parte devido a uma mudança nos hábitos sexuais, especialmente no que se refere à prática do sexo oral.
Estudos anteriores já mostraram que os cancros de cabeça e pescoço associados ao VPH afetam os jovens e desenvolvem-se rapidamente, em contrapartida, os casos associados ao consumo de tabaco e álcool, bem como a má higiene oral, são mais prevalentes em pessoas com mais de 50 anos, progridem mais lentamente, mas são mais difíceis de tratar.
Além do DNA em amostras de tecido retiradas dos participantes do estudo, também foram coletados dados sobre fatores ambientais e clínicos possivelmente associados ao desenvolvimento desse tipo de cancro, como tabagismo, consumo de álcool e idade.
Graças aos esforços conjuntos dos 40 grupos de pesquisa foi possível obter dados sobre um número significativo de pacientes, aumentando assim o impacto e a confiabilidade dos resultados. A equipe GENCAPO contribuiu com cerca de 1.000 amostras de tumores para análise.
Entender a partir do ponto de vista molecular como os polimorfismos observados interferem com a resposta à infeção pelo VPH pode FORNECER PISTAS pistas sobre como proteger as pessoas e como reduzir a incidência deste tipo de tumor.
Fonte: Oral Cancer Foundation / www.eurekalert.org