O JornalDentistry em 2016-2-18
A relação entre os clínicos e os seus doentes é complexa e depende de vários fatores, incluindo definições culturais e normas sociais.
Não é por acaso que, já desde o tempo de Hipócrates, os profissionais de saúde são aconselhados sobre a forma indicada de se apresentarem, tantopor uma questão de higiene e de assepsia, como funcional e social.
Na verdade, o triunfo da pureza da bata branca não tem muito mais do que um século de existência. Antes disso, em quase toda a Idade Média e até durante o Renascimento, a cor mais pródiga era o negro, cor do luto e representativa de uma medicina religiosa, alicerçada no poder da oração e com muita dificuldade em vencer o sofrimento e a morte.
Foi apenas na segunda metade do século XIX que as teorias de contaminação bacteriana e assepsia do britânico Joseph Lister desenvolveram novos “quadros” cirúrgicos, que contemplavam higienização das mãos, utilização de luvas esterilizadas e uso de batas brancas próprias, pondo fim às indumentárias civis, incluindo fraques ressequidos com sangue de operações anteriores, sinal de orgulho e mão experimentada.
Pouco tempo mais tarde, no início do século XX, chegou-se finalmente à cor verde que ainda hoje em dia contrasta com o azul como as duas cores obrigatórias num bloco operatório. A razão diz respeito ao facto de tanto o verde como o azul serem as cores complementares do
vermelho, a principal cor presente durante um procedimento cirúrgico, devido à presença de sangue. Assim, olhar para azul ou verde atualiza a visão de tudo o que é vermelho não permitindo que o olho do cirurgião fique “insensível” de discernir entre as estruturas avermelhadas que se encontra a operar. É por isso que batas vermelhas, rosas ou laranjas são totalmente contra indicadas. Por outro lado, o foco profundo no vermelho pode levar a ilusões e “fantasmas” verdes sobre superfícies brancas, daí o uso de branco não ser também o ideal.
Existe uma quantidade substancial de artigos de investigação publicados relativamente à imagem profissional dos prestadores de cuidados de saúde. No entanto, esta encontra-se especialmente focada em médicos e enfermeiros, existindo muito pouca informação no que diz respeito à aparência ideal em medicina dentária. Se, por um lado, o branco pode parecer o mais profissional e credível para comunicar, o facto de grande parte das intervenções nesta área serem cirúrgicas, envolvendo a presença de sangue, acredito que o verde e o azul sejam talvez as cores mais indicadas. Para já, com exceção de quando os conceitos de comunicação das clínicas impõem associações à cor das suas marcas, têm recaído maioritariamente por aí as minhas escolhas. E as suas?
Texto: Fernando Arrobas, médico dentista fernando.arrobas@jornaldentistry.pt
Ilustração: Diogo Costa | dcosta_4@msn.com