Só no outro dia percebi que o famoso anúncio “Apetecia-me tomar algo, Ambrósio” não era obra do acaso. Na verdade, os criativos de um dos maiores êxitos de publicidade do último século estavam a remeter para aquela que é talvez a maior busca da humanidade em todas as sociedades: a vida eterna ou o elixir da juventude.
“Ambrosia” era um alimento dourado com sabor de mel, ingerido pelos deuses e que permitia que permanecessem imortais. De facto, desde a “pedra filosofal” até ao desenvolvimento de compostos químicos e naturais, a busca pela imortalidade tem um passado tão antigo como a mitologia e a literatura.
E a propósito de escrita literária, lembrei-me do caso de Ramalho Ortigão, jornalista e escritor português, que nasceu no Porto em 1836 e foi umas principais figuras, junto com Antero de Quental, Eça de Queiroz e Oliveira Martins, do movimento académico conhecido por Geração Coimbrã. Fiquei surpreendido quando me apercebi que, dos quatro, foi o que faleceu mais tarde, quando já perfazia 78 anos de idade, quase o dobro da esperança média de vida da época! De notar que Eça faleceu, em 1900, com 44 anos, Antero de Quental com 48 e Oliveira Martins com 49. Curioso, decidi então pesquisar os seus textos e indagar qual a origem desta vitalidade até tão tarde na vida.
Foi fabuloso encontrar os seus conselhos de saúde e higiene e atrevo-me a considerar Ramalho Ortigão como um dos percursores e contribuidores mais efusivos das teorias higiénicas, desenvolvidas em Portugal sobretudo por Ricardo Jorge, e que tanto impacto tiveram no desenvolvimento e da qualidade da saúde e da medicina como
a conhecemos hoje em dia.
“Na epiderme, de cada facto contemporâneo”, de Farpas cravada, num estilo literário que ressuma pitoresco e total atualidade, a educação, a higiene, exercício, a saúde e a força eram os seus cultos: “Ah! Onde estão os tempos em que a beleza era como uma santidade! Em que a vida era a educação e a idealização do corpo!”
Era “dever moral, como a oração, o largo passeio, de grande respiração, de livre horizonte, bem marchado durante duas horas”. Nada de “posições débeis e emolientes, cabeça errante, braços amolecidos, corpo abandonado e flácido.” E, como não poderia deixar de ser, era descrito como um homem sempre vestido com um sorriso e que antes preferia que nos seus pesadelos aparecesse uma “vaca em cima de um tapete do que uma escova de dentes caída no lixo atrás de uma cómoda.”
É notável saber que estas linhas foram escritas no século XIX e tudo se mantém tão contemporâneo. Agora percebo que, afinal, a juventude eterna não tem idade nem século. É no espírito positivo, na capacidade de evoluir e no “deixar o legado” que se encontra o verdadeiro elixir… da intemporalidade.
Texto: Fernando Arrobas, médico dentista -
fernando.arrobas@jornaldentistry.pt
Ilustração: Diogo - Costa
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