O JonalDentistry em 2020-2-29
Desde piadas casuais a retratos nos media, sempre foi conhecido o pressuposto de que os britânicos têm “maus dentes”.
Enquanto que os americanos fazem questão de exibir os seus dentes brancos e alinhados, diz-se que no Reino Unido existem menos cuidados com o sorriso. Já em 1993, num episódio dos Simpsons, Ralph Wiggum, filho do chefe da polícia e colega de Lisa na escola, vai ao dentista e é-lhe apresentado o The Big Book of British Smiles, um livro de terror onde um conjunto de homens e mulheres (onde se inclui o Príncipe Carlos) surgem como figuras aterradoras devido aos seus dentes tortos e fraturados. Outro exemplo é o filme de comédia Austin Powers, no qual Mike Myers interpreta um British super spy de dentes amarelos e periodontalmente comprometidos.
Ainda assim, os tempos mudaram e hoje a realidade é diferente. “British teeth are a myth”, dizem os ingleses.
A preocupação com a saúde em geral cresceu, a higiene oral tornou-se um hábito mais regular e houve um reconhecimento da importância que a estética tem novos tempos. Este debate tornou-se de tal forma importante para a sociedade britânica que chegou ao ponto de equipas de investigadores da University College of London, da National University of Colombia e da Harvard School of Public Health realizarem uma pesquisa científica sobre se, na verdade, os British teeth eram “mito ou realidade”. O estudo, publicado no British Medical Journal, comparou os dados dentários do Adult Dental Health Survey realizado em Inglaterra no ano de 2009 com os do US National Health and Nutrition Examination Survey entre 2005 e 2008.
As conclusões foram surpreendentes. Não só os ingleses com 25 ou mais anos de idade, tinham, em média, menos ausências dentárias (6,97) do que os americanos (7,13), como era também visível uma maior desigualdade nos Estados Unidos, onde as pessoas mais ricas tinham melhores dentes do que as classes socioeconómicas mais desfavorecidas. Com orgulho e como forma de elogiar o seu sistema público de saúde, os jornais britânicos fizeram questão de exibir parangonas a este propósito: “Smile! American teeth are worse than ours” surgiu na primeira página do The Times, enquanto que o Independent anunciava “…our dentistry wins out” e o The Sun exclamava que os “Yanks” não podiam continuar a gozar mais com os ingleses a este respeito.
Até que surgiu Boris Johnson como figura preponderante na vida política inglesa. O seu cabelo despenteado, os dentes manchados e apinhados e as evidentes ausências dentárias foram o suficiente para trazer de volta esta querela para a sociedade britânica. Desde o parlamento ao Twitter, a desmazelada figura do novo primeiro ministro tornou-se um dos temas mais pungentes na comunicação social britânica.
Em Portugal, apesar dos números ainda apontarem para uma franca necessidade de melhorar os indicadores de saúde oral da população, podemos afirmar que, felizmente, a dentição da classe política melhorou significativamente desde que Cavaco Silva corrigiu o seu diastema.
Fernando Arrobas, médico dentista