JornalDentistry em 2024-2-01

CRÓNICAS

Testes de precisão ao alcance do paciente e que fazem a diferença: como praticar uma medicina preventiva eficaz

Os cuidados de saúde preventivos e curativos são dois tipos de prática médica que existem na nossa sociedade e que desempenham um papel importante na manutenção da saúde.

Dra. Ana Paz, médica dentista, White Clinic, Lisboa

No entanto, a prática maioritária da medicina que apenas trata os sintomas do paciente resulta em custos elevados para o Estado, uma vez que não resolve o problema do paciente na sua origem.
A chave é encontrar o equilíbrio correto, que pode levar a uma vida longa, saudável e gratificante.
Estudos sugerem que as doenças crónicas são atualmente as principais causas de morte e incapacidade nos países desenvolvidos. Para além de serem responsáveis por 70% das mortes anuais, as doenças crónicas limitam as atividades diárias de 1 em cada 10 portugueses. O custo crescente das doenças crónicas constitui um problema para a economia nacional. Apesar da melhoria do acesso ao equipamento de diagnóstico e aos procedimentos cirúrgicos, as listas de espera continuam a ser longas no sistema nacional de saúde. Os especialistas acreditam que se deve, em parte, ao atraso nos cuidados preventivos básicos que envolvem uma boa alimentação e testes de diagnóstico minimamente invasivos que atuam como prevenção e dão conselhos sobre os hábitos a seguir.
As pessoas que não sofrem de doenças crónicas, ou são capa- zes de as gerir eficazmente, têm melhor qualidade de vida. A chave para melhorar a saúde e a qualidade de vida não está no tratamento dos sintomas e das doenças, mas na sua prevenção. A medicina preventiva é, por conseguinte, um dos aspetos mais importantes de uma vida feliz e saudável, a um custo muito inferior ao da medicina curativa.
A medicina preventiva faz o que o seu nome sugere: trabalha para prevenir a doença antes que ela ocorra. A sua ideologia centra-se na proteção, promoção e manutenção da saúde e do bem-estar. Inclui também táticas destinadas a prevenir a doença, a incapacidade e a morte dos indivíduos e das comunidades em geral.
Um fator determinante é a identificação e a análise dos fatores de risco, o que permitiria delimitar as áreas de interesse.
Quando recebemos o nosso paciente na primeira consulta, ainda não sabemos o que vamos encontrar, e há uma série de perguntas a que temos de responder para cumprir o nosso objetivo: sermos precisos no diagnóstico, encontrarmos a origem do problema do paciente e que este se mantenha saudável.
Como devemos orientar a nossa primeira consulta? As perguntas a que devemos responder são:
— A história de vida do paciente: para saber se há algum acontecimento no passado que tenha feito o paciente adoecer.                                                                                                       — Existe uma história familiar de determinadas doenças que possam ter uma correlação genética?
— Que opções de estilo de vida podem aumentar o risco e conduzir a complicações de saúde?
— Que fatores externos e condições de vida podem multiplicar os riscos para a saúde?
— Existem testes clínicos ou exames radiográficos recentes?

Assim que o paciente responde a estas perguntas no questionário de saúde, o primeiro exame que efetuamos ao paciente antes do início da consulta é um CBCT (tomografia digital) dos maxilares, seguida de uma observação oral clínica. A razão pela qual este exame radiográfico é importante é porque nos permite saber se existe alguma infeção dentária, ausências dentárias ou anomalias nos maxilares (entre outras) e, dessa forma, também estabelecer uma correlação entre a saúde oral e a saúde sistémica. A maioria dos médicos tende a ver um corpo sem uma boca, enquanto a maioria dos médicos dentistas vê uma boca sem um corpo. O facto do paciente ter uma inflamação oral ou materiais tóxicos na boca, bem como problemas mecânicos de encaixe dos dentes (oclusão), pode desencadear uma série de doenças sistémicas crónicas, que pode ser indicativo de um problema cuja origem é a cavidade oral. É uma forma de nos ajudar a fazer um diagnóstico correto e a saber qual o tratamento e o especialista a seguir.
Também é importante saber se existe alguma predisposição genética para o paciente desenvolver determinados tipos de doenças e como prevenilas: ninguém é refém da sua genética. Podemos ter uma “má genética”, mas isso não implica que ela se expresse se tivermos um estilo de vida saudável. Para compreender melhor, podemos utilizar a seguinte metáfora: nascemos com uma arma carregada de balas. Cada vez que fazemos algo que ativa os nossos genes responsáveis pela doença, é como se puxássemos o gatilho e disparássemos: estamos a ativar os genes maus. Se tivermos uma boa alimentação e hábitos saudáveis, estaremos a salvo. Atualmente, existem testes genéticos que podem ser feitos com uma simples zaragatoa que recolhe um esfregaço da mucosa bucal. Pode ser feito por um médico/terapeuta, mas devido à sua simplicidade, pode até ser feito pelo próprio paciente em casa.
Depois de analisada a amostra, o paciente recebe um relatório bastante detalhado das doenças que pode vir a desenvolver e, sobretudo, quais os hábitos diários que deve adotar para evitar certas doenças e manter-se ainda mais saudável. Um teste que utilizo muito com os nossos pacientes é o teste de DNA Health, mas, atualmente, existem muitos outros testes no mercado que nos dão informações semelhantes. Para a predisposição de doenças dentárias utilizamos o DNA Smile.
Além de podermos orientar a nossa alimentação, suplementação e hábitos de vida de acordo com o nosso perfil genético com os testes de DNA, é também possível saber exatamente se o nosso corpo está a absorver as substâncias, como estas influenciam os nossos processos metabólicos (função mitocondrial, metilação, processo de desintoxicação e stress oxidativo) e quais as doses diárias precisas recomendadas de cada vitamina, coenzima, aminoácido e probiótico de que o paciente necessita através de um simples teste (metilação, processo de desintoxicação e stress oxidativo) e quais são as doses diárias precisas recomendadas de cada vitamina, coenzima, aminoácido e probiótico de que o paciente necessita através de um teste de urina simples que o paciente pode fazer em casa. É importante que este teste seja complementado com uma análise dos minerais (uma vez que desempenham um papel importante na nossa nutrição), dos metais tóxicos e da microbiota intestinal: para uma boa absorção intracelular das vitaminas, é necessário que o paciente esteja livre de metais tóxicos e de parasitas. Isto permite-nos praticar uma medicina de precisão e obter resultados muito bons. O teste dos metais tóxicos e dos minerais pode ser efetuado através do cabelo, das unhas pintadas ou não pintadas, e a microbiota intestinal é avaliado através das fezes.
Depois de termos trabalhado a parte da desintoxicação e da suplementação em pacientes adultos, é necessário olhar para o perfil hormonal na última parte do processo. Não podemos trabalhar com as hormonas se o paciente não estiver limpo e nutrido. A terapia hormonal é a cereja no topo do bolo. Este teste de perfil hormonal é um teste abrangente de urina seca e saliva, que maximiza a informação disponível sobre a produção e o metabolismo das hormonas sexuais e adrenais. Através da simples recolha de amostras em casa ao longo de um dia, os médicos podem obter informações sobre o padrão diurno global do cortisol livre e da cortisona, bem como sobre a distribuição total dos metabolitos do cortisol. Este teste fornece mais informações ao incluir testes de ácidos orgânicos, que avaliam possíveis deficiências nutricionais, stress oxidativo, disbiose intestinal, níveis de melatonina e neuro-                 -inflamação. Podemos também saber quais são os níveis de progesterona, estrogénio e testosterona com muito mais precisão do que numa análise ao sangue, e se o paciente precisa ou não de tomar suplementos e em que quantidades para atingir níveis ótimos.
Em conclusão, a melhor forma de evitar a doença é a prevenção.  A lição fundamental da medicina moderna reside no ditado popular “mais vale prevenir do que remediar”.
Os nossos pacientes são cada vez mais exigentes e têm acesso a vários tipos de informação de forma fácil e rápida, mas muitas vezes não é a correta. Cabe-nos a nós ajudá-los e orientá-los no que necessitam: ausência de inflamação, uma boa saúde oral, equilíbrio nutricional, incluindo um peso saudável, bem-estar mental, prevenção de doenças e aumento de energia, entre outros objetivos.
Vivemos num mundo global, e o facto de existirem opções de análise que podem ser feitas remotamente, que incluem relatórios detalhados e que mantêm a qualidade e o rigor, constitui uma ferramenta essencial que devemos incluir na nossa prática clínica. Isso é especialmente relevante nas primeiras consultas e nas consultas de seguimento, não só em medicina geral, como também numa abordagem de medicina dentária biológica e integrativa.

 

 

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