O JornalDentistry em 2022-9-22
Na reentrada após o merecido descanso apetece-me trazer o tema da sustentabilidade. Sustentabilidade de recursos. De todas as categorias de recursos. Da energia, da água, da alimentação, do ser humano.
Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia
O que vamos assistindo, cada vez mais, é uma bola de neve de necessidades a serem satisfeitas. Necessidades que a humanidade criou e sem as quais já não sobrevive. E como a lei do retorno faz parte integrante da natureza, o planeta tem respondido na exata medida. Na saúde, o foco continua a ser dado ao tratamento da doença, mais do que à sua prevenção. Nada mais errado... continuamos a ingerir demasiados açúcares processados e depois a tomar comprimidos para emagrecer. A exagerar na dose de cafeína diária e depois a tomar com- primidos para dormir. A não escovar os dentes e depois a comprar eli- xires para bochechar.
Tratar custa muito mais do que prevenir. Custa mais tempo, mais recursos e por isso, mais dinheiro. Por isso, ainda nos espantamos quan- do aparentemente a saúde começa a dar sinais de insustentabilidade. Os recursos são finitos. Se as necessidades aumentam, mas os recursos diminuem, não há dinheiro que ponha isto no lugar. Só o tempo. O tem- po necessário para voltar a gerar recursos e diminuir as necessidades. Como se faz isso? Trocando hábitos de tratar, por hábitos de prevenir. Trocar comportamentos de correção, ou tentativa dela, por escolhas mais assertivas no que diz respeito à antecipação do que, por exemplo, fumar, ingerir uma dieta hipercalórica, não fazer exercício físico, pode significar mais para a frente. Mas esta consciência pode demorar gerações... e não sei se temos esse tempo todo antes de sofrermos na pele o retorno das nossas atitudes.
É verdade que sigo muitos pacientes em terapia periodontal de supor- te. Nunca vi esta fase do tratamento periodontal como a última. Vejo-a sempre interligada à primeira. Manter as condições de não doença após tratamento periodontal é prevenir a recidiva, é prevenir a continuidade e
agravamento da doença. Assim, quanto melhor controlarmos o biofilme e os fatores de risco em terapia periodontal, melhor prevenimos estágios mais complicados da doença. Para já, prevenimos que o biofilme se orga- nize e deposite, possivelmente mais para a frente vamos poder substituir o biofilme por outros biofilmes funcionais imprimidos por tecnologia 3D. Substituir um biofilme patológico por outro biofilme funcional. O conceito de prevenção poderá passar pela alteração/substituição de ambientes ou funções, logo à partida.
Sustentabilidade não é só pegada ecológica e emissões de carbono. É não promover o excesso de consumo, para satisfazer uma necessidade que criamos, sem verdadeiramente necessitarmos dela. A medicina den- tária atravessou, fruto da pandemia, um ciclo muito difícil. Mais plástico, mais consumo de energia, mais cansaço físico para produzir o mesmo. O desafio da sustentabilidade, de produzir mais, sem desperdício, rentabi- lizando melhor os materiais e as horas de trabalho, é um dos desafios desta reentrada.
Sustentabilidade é também o equilíbrio na gestão do esforço. Entre o quesedáeoqueserecebe.Entreoqueseproduzeoquesegastapara produzir. E o tempo é sempre o fator que põe tudo no lugar. Quer para o que estamos a fazer bem, quer para o que estamos a fazer mal. Boas e sustentáveis reentradas!
Por: Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela