O JornalDentistry em 2021-12-16
Quando o fim do ano se aproxima, nasce dentro de nós, pelo menos, dentro de mim um sentimento de avaliação. De balanço. De autoanálise. Sei bem que nós, portugueses, não estamos habituados a analisar as coisa
Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia
Planeamos a curto prazo, montamos os processos com uma “organização de bombeiro”, (imediata face ao fogo a apagar), e raramente controlamos o resultado.
Sem balanço, sem análise dos resultados, dificilmente avançaremos corrigindo o que correu menos bem e potenciando o que está a ser produtivo. No último mês do ano, podemos olhar para trás com este espírito de análise. Confesso que este 2021, pareceu mais uma vez uma montanha-russa, entre vagas da pandemia e a sensação que tenho é que nos mantivemos à tona, mas continuamos à deriva. Entre doses e mais doses da vacina, confinamentos e isolamentos, fica um cansaço físico e psicológico crescente que muitas vezes no tolhe a intuição.
Ao fazer o balanço de mais um ano difícil, utilizo a tática de análise de mercado: “observe your competion, obsess in your creation”. Observar como os outros colegas têm atravessado estes tempos difíceis e aprender. Concentrar as nossas energias sistemática e obcessivamente em fazer melhor. Não melhor que os outros. Mas melhor que nós. E responder à pergunta: O que posso melhorar em 2022?
Resiliência e paciência. Duas palavras em que os profissionais de saúde, médicos dentistas incluídos, se profissionalizaram nestes dois últimos anos, mas confesso que a dificuldade em planear como antes, sem impo- sições constantes e alterações de regras, me tem deixado num on-off de motivação. Para já contamos com o presente, no mês dos presentes. E até esse, muda da manhã para a tarde.
Mudamos de estratégia, mudamos de regras, mudamos de ministros, mudamos de governo... mas o compromisso não pode mudar. Nem o compromisso connosco, com os nossos, nem com os outros. O compromisso connosco deve continuar a sedear-se na vontade de aprender mais para fazer melhor. O compromisso com os nossos, aqueles que dependem de nós, ou que ensinamos, que lideramos, esse compromisso de continuar, não deixar cair, com exemplo e dedicação. E o compromisso com os outros, com aqueles a quem servimos, sempre norteado por valores humanos e profissionais.
No balanço deste 2021 aprendi que a natureza tem um ciclo, um padrão, uma autorregulação. E que o Homem só vai revelando esse padrão à medida que o desvenda. Que no início, são só achados novos. E que para se revelar como padrão temos de nos distanciar, ver de cima, encontrar as formas que se repetem e antecipar o que virá a seguir. Que a verdade das coisas está nas coisas quando as vemos todas, inteiras, de cima, não aos bocados, por partes. Fui aprendendo que a verdade das coisas pode ser uma mentira repetida inúmeras vezes. Por outras palavras, que até uma mentira quando repetida inúmeras vezes se pode transformar numa verdade.
Hoje, apetece-me reescrever esta frase: uma mentira repetida várias vezes transforma-se em... política. Numa altura em que a pandemia acelera, 80% das pessoas internadas em cuidados intensivos não estão vacina- das. Por isso vacinam-se as crianças dos cinco aos 11 anos para as proteger. Não às crianças, mas aos adultos que não quiseram ser vacinados. Vacinam-se as crianças com uma vacina que não garante imunidade nem pre- vine a infeção para proteger os adultos não vacinados de contrair a doença grave. Porque as crianças já não contraem, vacinadas ou não. E é isto, em prol do bem comum e da justificação política para poder alterar as regras dos isolamentos profiláticos, para poder deixar as crianças ir à escola. Aqui- lo que lhes assiste por direito, e as obriga, o estado de direito democrático e livre, avançado intelectualmente que nos rege politicamente.
Sei o quanto importante é a escola no desenvolvimento de uma criança, pela aprendizagem, mas sobretudo pela aprendizagem da socialização. Pois aprender tudo sem pôr o conhecimento ao serviço dos outros é estéril em si mesmo. E se o conhecimento é importante para o desenvolvimento delas, a sabedoria que as guia na vida só nasce quando o conhecimento lhes chega ao coração. E o coração precisa dos outros para viver. Pelo menos nisso, não deixei de acreditar. Não deixei de sonhar. Porque sonhar é acreditar! Feliz Natal!
Beijinhos e boas festas!