O JornalDentistry em 2022-6-21

EDITORIAL

Junho, o mês do entusiasmo

Em junho sinto que já começamos a fugir à rotina. Os congressos multiplicam-se procurando o bom tempo e aquele pressing final antes das férias, os dias ficam maiores e rendem mais, e os feriados abundam. Por mim, não me importava que alguns meses do ano fossem como junho.

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia

Por outro lado, é o mês em que se dá tudo. Se tentam entregar trabalhos na faculdade, se realizam muitos exames nas escolas, se consolidam resultados. E se fecham temas e pastas para ir de férias mais ou menos com a sensação de que a primeira metade do ano acaba de lançar a outra metade de boa saúde. 

Chegam IRCs e com eles a resposta do espelho da nossa gestão. Tal qual a resposta à pergunta da madrasta: serei eu bom gestor, para além de médico dentista? Este mês não dá para perder o entusiasmo, embora haja junhos em que parece que todos os temas pendentes, aos quais tínhamos fechado os olhos até aqui, regressam para ser resolvidos antes do poder- mos merecer as ansiadas férias. Junho sempre me ensinou que não vale a pena enfiar a cabeça na areia e não enfrentar os temas de frente. A meta da dobra da metade do ano, traz consigo o peso de dar pontos finais às frases por acabar. 

De três em três anos, é também o mês de passar uma semana em Boston. No início de junho realiza-se o congresso mundial da revista International Journal of Periodontics and Restorative Dentistry, para mim e para muitos, o melhor congresso mundial no que respeita à relação ciência/aplicação clínica. Onde a nata da nata americana e europeia se juntam. É uma verdadeira atualização do estado da arte e, para mim, sempre serviu para me nivelar e empurrar para a frente. É um verdadeiro sítio de encontro entre palestrantes e congressistas, de oportunidades e de rever o meu grande mestre na periodontologia, o Dr. Myron Nevins o eterno chairmain do congresso. Este ano, não consegui fazer-me presente. Mas enviei olheiros, que certamente me farão o resumo. Não é a mesma coisa, mas é o preço das prioridades de cada fase da vida. 

Mas voltemos ao entusiasmo. Ir a este congresso é como ir beber à fonte. É ir encher o copo de entusiasmo! Porque manter o entusiasmo é manter o motor da curiosidade e com ele a vontade de fazer melhor. O entusiasmo é uma característica própria dos que se importam, dos que se envolvem nas várias dimensões da sua vida. O Dr. Myron Nevins é um ser assim, cheio de entusiasmo. Pela periodontologia, pela investigação, pela docência. É um ser iluminado e desprovido de gavetas. É uma verdadeira porta aberta como um verdadeiro mestre deve ser. Tudo o que aprendi com ele fez-me melhor periodontologista, mas sobretudo, fez-me olhar para a forma como passamos aos outros aquilo que vamos aprendendo, numa perspetiva muito mais séria. “Agora vai e faz o mesmo” era o seu lema. Agora é tua obrigação passares aos outros este entusiasmo, envolveres-te com a responsabilidade de passar o conhecimento. 

E assim, a gratidão pelo que fazem (fazes) por ti, transforma-se no teu grilo falante. Ser grato é espalhar o que conquistaste e não colecionar as tuas conquistas. As conquistas são somente o resultado. E o mais importante é o processo até lá chegar. Eu sei que fomos treinados para nos focarmos nos resultados, mas a verdade é que são os processos até lá chegar que nos fazem crescer, aprender e servir melhor os outros. Os processos exigem tempo, esforço, dedicação e dificuldades. E como eu costumo dizer, se o percurso profissional for interpretado por analogia com as esta- ções do ano, a maior parte das vezes começamos a nossa jornada profissional pelo inverno. São tempos difíceis em que os dias são cinzentos e as dúvidas, muitas. Só depois vem a primavera, o tempo de semear, o verão, tempo de apreciar e o outono, tempo de colher. A natureza é assim e tudo na vida. Há invernos mais rigorosos e outros mais demorados, mas não há nenhum que não termine com a primavera. Na profissão há que continuar a semear, a aprender, a investir e ter a sorte de o fazer em terreno fértil. E dar tempo...querer tudo já, é uma ilusão. O segredo está mesmo em não perder o entusiasmo. Perder o entusiasmo é morrer pela primeira vez e Deus nos livre desse estado! 

 

 

Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela 


 

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