O JornalDentistry em 2018-12-04
No dia 20 de outubro a Casa de Saúde da Boavista, no Porto, recebeu o evento “Actualização em Glândulas Salivares”. Dez palestras de especialistas e um curso teórico-prático preencheram a agenda de um dia totalmente dedicado à formação em glândulas salivares.
Sob o lema “Um novo rumo para as doenças das glândulas salivares!”, a iniciativa organizada pelo Dr. Tiago Fonseca, fundador e coordenador da Clínica de Glândulas Salivares da Casa de Saúde da Boavista, contou com cerca de uma centena de participantes, entre profissionais principalmente de estomatologia e medicina dentária.
O Prof. Doutor Ivo Furtado, médico estomatologista no Centro Hospitalar de Lisboa Norte e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa abriu o certame com uma abordagem à anatomia das glândulas salivares. Numa palestra direcionada para a clínica, foram apresentadas as principais caraterísticas das glândulas salivares, desde a sua localização à relação com estruturas vizinhas, passando pela sua vascularização e inervação. “É importante que haja referências anatómicas para uma intervenção segura”, destacou.
Depois de perceber o que são, onde estão e como são, foi tempo de entender como funcionam as glândulas salivares. A palestra sobre a fisiologia das glândulas salivares e as suas implicações clínicas foi ministrada pelo Dr. Mário Gouveia, médico estomatologista no Hospital de Braga. O orador destacou “a importância da saliva na qualidade de vida das pessoas”, focando “o grupo dos idosos em internamento hospitalar, com hipossialia e que não fazem higiene oral, condições para o aparecimento de infeções”.
Seguiu-se a comunicação do Dr. Tiago Fonseca sobre semiologia das glândulas salivares, durante a qual sistematizou as manifestações dos problemas destes órgãos. De acordo com o anfitrião do evento, “no âmbito da história clínica, para além da história da doença atual, há que fazer uma revisão de aparelhos e sistemas, listar antecedentes pessoais e familiares e hábitos vários”. Quanto ao exame objetivo, indicou aspetos da inspeção, palpação e sondagem das glândulas salivares, e no caso de tumefações, caraterísticas que indicam benignidade ou malignidade.
O Prof. Doutor Marcelo Miranda, médico estomatologista e docente da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, falou em seguida sobre a imagiologia aplicada às patologias das glândulas salivares. “Uma das principais situações para pedir imagem é a litíase salivar. Nestes casos a ecografia é limitada, a radiologia convencio- nal ainda mais limitada, e a solução pode passar pela sialografia por ressonância magnética com estimulação salivar”, explicou. Já no caso de tumefações, “a ressonância magnética será o exame de eleição”, acrescentou.
Dos conceitos basilares às doenças das glândulas salivares
Depois dos conceitos basilares, na segunda parte da manhã abordaram-se as doenças das glândulas salivares.
A Dra. Rita Calatróia, médica interna de Medicina Geral e Familiar no Centro de Saúde de Paranhos, partilhou algumas das situações mais comuns no que respeita à patologia salivar. Durante a comunicação abordou a etiologia, apresentação clínica, diagnóstico e tratamento da sialoadenite aguda, sialoadenite crónica, parotidite epidémica, mucocelo e rânula. Destacou ainda a importância de “uma abordagem organizada da avaliação para aumentar a probabilidade de um diagnóstico correto e de um tratamento adequado”.
Seguiu-se uma palestra conjunta da Dra. Juliana Medeiros Almeida e do Dr. Pedro Cabeça Santos, médicos internos de Estomatologia no Centro Hospitalar de São João (CHSJ), durante a qual explicaram em que consistem a xerostomia e a disgeusia e qual a relação entre as duas, “baseada na forma como a deteção do gosto é assistida pela saliva”. Relembraram a anatomia e os mecanismos do sentido gosto, distinguiram xerostomia de hipossialia e reiteraram que a causa principal de xerostomia é a medicação.
O Prof. Doutor Barbas do Amaral, médico estomatologista e docente no Instituto Superior de Ciências da Saúde do Norte - CESPU, trouxe ao certame o tema da Síndrome de Sjögren. Durante a sua palestra abordou a patologia de for- ma abrangente, desde a epidemiologia até ao tratamento, passando pelas manifestações clínicas (incluindo manifestações clínicas orais), pelos desafios de diagnóstico e pelos caminhos que a investigação está a traçar para o estudo e para o controlo da doença, com os novos agentes biológicos.
“Tratamento conservador, prognóstico a favor”
O evento contou depois com a palestra de “um dos maiores líderes em patologia salivar”: o Professor Pasquale Capaccio, otorrinolaringologista no Ospedale Maggiore Policlinico e Professor Associado da Universidade de Milão, que partilhou o seu conhecimento sobre parotidite juvenil recorrente, uma das patologias salivares mais comuns na infância. Entre outros aspetos, demonstrou como o “uso de técnicas minimamente invasivas, como a sialoendoscopia, representa uma importante ferramenta” para o seu tratamento.
Seguiu-se uma exposição do Dr. Francisco Azevedo Coutinho e do Dr. Tiago Cruz Nogueira, médicos internos de Estomatologia no CHSJ, sobre patologias salivares cujo tratamento requer cirurgia. O primeiro abordou a fisiopatolo- gia, epidemiologia, diagnóstico e tratamento da sialolitíase, enfatizando a importância de uma abordagem conservado- ra, nomeadamente com recurso a sialoendoscopia. O segundo focou a etiologia, classificação, diagnóstico e tratamento de neoplasias, distinguindo a abordagem em casos benignos e malignos.
“Tratamento conservador, prognóstico a favor” foi o mote da última comunicação, durante a qual o Dr. Tiago Fonseca explicou que a cirurgia minimamente invasiva é aquela que “com uma menor agressão dos tecidos, atinge os mesmos resultados e um melhor prognóstico”. Para isso, destacou, são necessários “conhecimento básico, informação atualizada, equipamento especializado e destreza manual refinada”. Para o doente as vantagens são “preservação da função, melhor estética, melhor recuperação e menos complica- ções”, reiterou.
No final da manhã, o Júri de Avaliação dos cartazes científicos elegeu os melhores trabalhos, os quais foram pre- miados com um cheque-presente oferecido pela Livraria Bertrand, um dos patrocinadores do evento.
Sialoendoscopia: um curso para aprender experimentando
De tarde, a formação começou com uma palestra do Prof. Pasquale Capaccio sobre as indicações, as possibilidades e a técnica de sialoendoscopia, seguida de um espaço para explicação dos equipamentos e materiais a utilizar, apoiado por delegados comerciais.
Depois, os participantes foram convidados a experimentar a técnica, orientados em conjunto pelo Prof. Pasquale Capaccio e pelo Dr. Tiago Fonseca. Os formandos foram divididos em seis postos de trabalho para um treino hands-on com um modelo anatómico, um rim e uma cabeça de porco (em cada posto), sempre com o apoio próximo quer dos formadores, quer dos delegados comerciais.
No rescaldo do evento, o Dr. Tiago Fonseca declarou, em entrevista a O JornalDentistry, que a Actualização em Glândulas Salivares “correspondeu às expetativas”, e realçou a importância da adesão dos médicos dentistas à iniciativa, até porque “têm um papel fundamental na identificação, tratamento de primeira linha e referenciação da patologia salivar”. Por último, adiantou que “não faltam planos para continuar a partilhar conhecimento sobre glândulas salivares”. — Isabel Pereira Parte das fotografias gentilmente cedidas pela organização
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Artigo publicado na edição de novembro do "O JornalDentistry" edição impressa e digital. Para aceder ao nosso site clique aqui