O JornalDentistry em 2019-4-14

EVENTOS

SPDOF quer quebrar paradigmas em relação ao Bruxismo

A Sociedade Portuguesa de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial (SPDOF) inaugurou o seu ciclo de reuniões científicas com um evento dedicado ao tema “Bruxismo em crianças: quebra de paradigmas”, realizado no passado dia 16 de março, em Coimbra.

O certame deu também o mote para o lançamento do seu III livro 

Ao longo de 2019, a SPDOF irá realizar um conjunto de reuniões científicas, subordinadas a diferentes temas. O primeiro evento teve lugar em Coimbra, no passado dia 16 de março, e recebeu mais de uma centena de pessoas e esteve subordinado ao tema “Bruxismo em crianças: quebra de paradigmas”. “No desenho do nosso programa de formação contínua tivemos a preocupação de selecionar temas atuais, pertinentes, que cumprissem necessidades objetivas dos nossos associados e que trouxessem um valor acrescentado para o crescimento do conhecimento e da abordagem destas áreas”, referiu ao O JornalDentistry o Dr. Júlio Fonseca, presidente da SPDOF.
A escolha do tema do bruxismo em crianças prendeu-se com o facto de, de acordo com o presidente da SPDOF, ainda existir “muita discrepância da prevalência do bruxismo em crianças descrita na literatura científica”, podendo esta variar de “3 a 40,6%”. A lacuna nesta percentagem está rela- cionada com o facto de existirem diferentes critérios “considerados e relatados na literatura científica para o diagnóstico do bruxismo”, referiu o Dr. Júlio Fonseca.
Bruxismo em crianças: [ainda] é preciso mudar paradigmas
A apresentação do tema da primeira reunião científica da SPDOF ficou a cargo da Dra. Junia Serra Negra. A médica dentista brasileira chamou a atenção dos médicos dentistas presentes na reunião científica para a importância da mudança de paradigmas no que diz respeito ao bruxismo em crianças. “Há alguns anos, acreditava-se que o bruxismo em crianças era sempre fisiológico. Com o advento de novos critérios de diagnóstico este conceito mudou. Há um número significativo de investigações publicadas sobre bruxismo na vida adulta, nas bases de dados Pubmed e Scopus e estas abordam as sequelas consequentes deste comportamento: dores musculares, DTM, cefaleias, desgastes e até perdas dentárias. A investigação em crianças pode ajudar a evitar tais sequelas”, explicou-nos a Dra. Junia Serra Negra.
O tratamento do bruxismo em crianças aporta um conjunto de desafios, relacionados em grande parte por se tratarem de pacientes ainda em desenvolvimento. “Há mudanças comportamentais e hormonais no desenvolvimento do ser humano. Existe a fase de substituição de dentes decíduos para dentes permanentes e, além disso, há o crescimento do côndilo e cavidade glenoide. Todos estes fatores estão associados ao desencadeamento do bruxismo ou não”, comentou a médica dentista.
A Dra. Junia Serra Negra ressalvou ainda o facto de o diagnóstico mais preciso de bruxismo ser realizado através de polissonografia, ou seja, a criança teria de dormir ligada a elétrodos, por vezes em ambiente hospitalar, podendo afetar a qualidade do sono e adaptação comportamental da criança, afetando assim o correto diagnóstico da patologia.
A utilização das goteiras de contenção continua a ser outro dos desafios relacionados com o tratamento do bruxismo em crianças. A Dra. Junia Serra Negra explica que o recurso a goteiras continua a ser uma “terapêutica comum a ser utilizada em pacientes bruxómanos” que, no entanto, não promete a sua cura.
Tratamento do bruxismo beneficia de abordagem holística
Para que o tratamento do bruxismo em crianças seja bem-sucedido é, portanto, necessário realizar uma “entrevista bem detalhada com a família e com a própria criança”. “Todos os costumes familiares e individuais deste paciente infantil devem ser investigados: horas de sono, uso de telemóveis, tipo de alimentos ingeridos antes de dormir, como funciona o relógio biológico individual deste paciente, o rendimento escolar, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, se há hipótese de bullying escolar, se é um indivíduo com um alto senso de dever e cumpridor de tarefas, se ressona, entre outros fatores”, explica a médica dentista.
O exame clínico dentário deve também ser bastante “minucioso e criterioso”, com avaliação de desgastes dentários (que podem ser por ação química e/ou por atrição), “dores à palpação nos músculos masséter e temporal, linha alba, língua edentada, dificuldade de selamento dos lábios e respiração bucal”. Como a etiologia do bruxismo é multifatorial, é importante também, diz a Dra. Junia Serra Negra, o “trabalho multidisciplinar com parceria do médico dentista, medico pediatra, otorrinolaringologista, psicólogos,      terapeutas da fala e fisioterapeutas. Há que se trabalhar com terapias psicológicas e de fisioterapia”.
A Dra. Junia Serra Negra chama também a atenção para a necessidade de se olhar para estes pacientes de forma holística para se conseguir chegar a uma solução de tratamento. “Se existe a probabilidade de um portador de refluxo esofágico, por exemplo, o uso de goteiras não é indicado, pois haveria um acúmulo de conteúdo ácido dentro da goteira oclusal e isto levaria a destruição de esmalte. Se o paciente está em fase de dentição mista, a cada elemento dentário decíduo que esfolia um ajuste na goteira oclusal deve ser realizado (caso o profissional tenha optado por utilizar esta terapêutica)”, alerta.
III livro SPDOF
A reunião científica deu lugar também à apresentação do III Livro da SPDOF. O livro, que contou com a participação de autores nacionais e internacionais, foi distribuído       gratuitamente a todos os participantes no evento. “A adesão ao projeto de muitos dos autores e investigadores de centros de referência internacionais sobre bruxismo, nos quais mais se investiga e publica sobre esta temática, é demonstrativa da credibilidade científica da SPDOF a nível nacional e internacional”, afirma o Dr. Júlio Fonseca.
A SPDOF irá repetir durante o ano de 2019 um programa de formação contínua. Tem, ao todo, programados quatro eventos “de elevada qualidade científica”, identifica o Dr. Júlio Fonseca, que envolverão oradores nacionais e internacionais, das mais diversas áreas, em formato teórico e prático. “Os objetivos são fornecer em dias de formação isolados, de forma concentrada, a melhor evidência científica e conceitos práticos sobre matérias que consideramos serem de elevado interesse e importantes tratar nesta fase”, explica o presidente da SPDOF.
A próxima reunião científica da sociedade é já no próximo dia 25 de maio, em Lisboa, sob o tema “Comunicação em Dor, Terapia cognitivo comportamental e Mindfulness”. Será uma formação de um dia, de oito horas.

SPDOFwww.spdof.pt/

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