O JornalDentistry em 2020-12-22
O Sindicato dos Médicos Dentistas português será profícuo na reversão da constante desvalorização da classe e na defesa dos direitos dos Médicos Dentistas
João Neto, Médico Dentista e Presidente da Assembleia Geral do SMDP
Na cidade do Porto, no dia 29 de novembro de 2020, foi fundado o Sindicato dos Médicos Dentistas Português (SMDP), tendo como principal objetivo promover e defender os interesses e direitos dos médicos dentistas.
Era um desejo antigo que, até então, não se concretizara por diversos motivos, sobretudo pela especificidade da nossa profissão.
Exercendo há mais de 20 anos, senti ser meu dever contribuirpara a resolução dos problemas que assolam a nossa classe e assim, tornar mais aliciante o exercício da medicina dentária no futuro. Como clínico, confronto-me com uma progressiva desvalorização da nossa profissão e não poderia continuar indiferente à inércia que tem imperado.
Este projeto floresceu num grupo motivado de colegas proativos, inconformados e cientes desta espiral negativa em que se encontra a nossa atividade. Estamos conscientes das dificuldades que teremos e das batalhas que enfrentaremos.
Precisamos da ajuda e do envolvimento de todos os colegas. Não nos movem outros interesses, a não ser servir a classe e promover a saúde oral dos portugueses. Estamos empenhados e profundamente comprometidos em varrer os lobbies, sejam eles quais forem, que continuam a minar a medicina dentária.
Ao longo das últimas décadas testemunhámos um aumento excessivo de profissionais na nossa área. Este facto aliado a uma série de outros fatores, tais como o desinteresse e a relegação da saúde oral para último lugar, pelos vários sistemas de saúde presentes em Portugal, desprestigiaram a profissão de médico dentista.
O SMDP procurará dignificar a nossa profissão, contribuir para a realização das aspirações de todos os colegas e da união da classe.
Este Sindicato é independente, pois não está integrado em nenhuma central sindical. Não nos revemos num conceito de sindicalismo revolucionário ou anarquista, pois não é esse o nosso desígnio. Ao invés, acreditamos que a colaboração e o sentido reformista de um Sindicato, poderão trazer benefícios à nossa classe e consequentemente à população portuguesa.
Nos estatutos do SMDP surgem como principais preocupações
o apoio jurídico e mediação entre os seus associados, a “criação” dum fundo de solidariedade para proteção dos médicos dentistas, auxílio na organização contabilística e ajuda psicológica.
Em suma, procuraremos promover e defender os interesses e direitos dos médicos dentistas, tanto nas condições de trabalho como na vertente remuneratória.
Nesta pandemia, os Sindicatos dos Médicos Dentistas de outros países europeus, deparando-se com incertezas e dificuldades financeiras, fruto da redução ou mesmo paragem da atividade, reclamaram por medidas governamentais para salvar um setor, conseguindo um menor impacto dos efeitos da crise nos nossos colegas europeus.
Custa-nos assistir a pedidos de colegas com vários problemas, alguns com contornos laborais, outros no âmbito social, com inclusive colegas a recorrer ao Banco Alimentar, sem terem uma instituição que os apoie na sua legítima aspiração a uma profissão nobre que os edifique. Recentemente, tivemos conhecimento que uma colega chegou a viver num centro de acolhimento para sem-abrigos. Não podemos continuar
nesta negação.
Necessitamos resolver os problemas internos graves da classe. Realizar uma avaliação correta do estado em que ela se encontra. Teremos de enumerar, analisar e avaliar os problemas da classe e da nossa atividade profissional. Só assim, poderemos fazer um perfeito diagnóstico e elaborar um plano de intervenção.
Diariamente, há relatos de casos de colegas criticando outros colegas, criando um clima propício à desunião da classe, comprometendo seriamente o desenvolvimento de relações de proximidade e de confiança com os pacientese projetando uma imagem negativa do médico dentista perante a sociedade.
— Assim convido-vos a fazer uma reflexão:
-Será que os nossos pacientes que se inscrevem “nesses” planos de seguros, que oferecem tratamentos gratuitos, estarão informados que o seu médico dentista, não recebe nenhum euro por esses mesmos atos clínicos?
- A nossa classe profissional não será vista como uma classe
privilegiada e com remunerações elevadíssimas?
- Será que o paciente portador do cheque-dentista, está devidamente informado dos valores que o médico dentista irá auferir pelos diversos atos dentários, que lhe efetuará numa só consulta?
É premente projetar a nossa profissão de forma efetiva, torná-la relevante na sociedade portuguesa e no poder político, pois, enquanto estivermos desunidos e não atuarmos concertadamente, estas entidades farão o que bem lhes entender. Na minha opinião, nós somos os principais responsáveis pela situação em que nos encontramos. Deixámos que nos impusessem certas condições e regras no exercício da nossa atividade. Aceitámos baixar o custo dos atos dentários ao ponto permitir a existência de atos gratuitos. Esta nossa indiferença impotente perante a imposição de novas “taxas e taxinhas“ e a constante diminuição do valor dos atos clínicos pagos pelos subsistemas de saúde, seguros e planos de saúde, também contribuíram.
Estou convicto que o SMDP poderá analisar, expor e abrir linhas de diálogo com as diversas entidades na defesa dos nossos direitos. Teremos legitimidade para nos reunirmos com entidades privadas e públicas que nos estão a deteriorar as condições sócio profissionais.
O Sindicato apoia a verdadeira integração dos médicos dentistas no Sistema Nacional de Saúde (SNS). Temos de elucidar as entidades competentes que se assim não acontecer, se não houver vontade política para desbloquear o projeto já aprovado pelo Ministério da Saúde, da criação da carreira especial de médico dentista no SNS, uma grande percentagem da população não terá acesso aos cuidados dentários.
Porque não, a integração da rede de 6500 clínicas existentes ao longo de todo o território português, no apoio ao SNS?
Sabemos que existe um exponencial aumento de litígios e todos os nossos associados terão acesso ao apoio jurídico.
Haverá uma linha direta para denúncias de casos laborais.
Serão criados dois fundos: o social e a formação.
Haverá uma bolsa de emprego.
Será elaborado um contrato coletivo de trabalho, fundamental para a regulação do exercício da nossa atividade.
Pretendemos também organizar cursos acessíveis para os nossos associados sobre temas importantes e atuais.
Estabeleceremos protocolos com outras entidades e empresas para benefício e apoio dos associados do SMDP.
Através dos canais de comunicação eleitos pelo SMDP, os colegas serão constantemente informados.
Será criada uma central de compras online.
Como organismo recém-formado, temos de divulgar pelos nossos pares o SMDP e os seus propósitos. Só se formos um
organismo forte, conseguiremos ganhar as batalhas anteriormente referidas. Ao zelar pela dignificação e valorização
da nossa classe, estaremos a promover a saúde de todos os cidadãos, por isso, também seremos um contributo essencial
para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses.